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Todos os dias, centenas de produtos são anunciados no mercado internacional de entretenimento. Filmes, músicas, livros e jogos buscam destaque em meio a cenários competitivos e agressivos, lançando do mão das mais variadas estratégias e técnicas para cativar o público. Consumidores em potencial são atingidos diariamente por colossais torrentes de textos, anúncios, trailers e especulações. Eis a publicidade, eis a raiz do capitalismo. Porém as vezes a exposição extrema se torna o poderoso algoz das indústrias, destruindo no lugar de construir.
Uma classe especial de produtos, que podem ser chamados de premium ou triple AAA, possui orçamento milionário e divulgação intensa. Livros como Harry Potter, filmes como Vingadores e jogos como Cyberpunk 2077 atraem a atenção de multidões, criando euforia e desespero. Durante meses ou até mesmo anos, o público compartilha teorias, vídeos, imagens e opiniões extremistas sobre os produtos, gerando expectativas irreais e insaciáveis. E é justamente esse sentimento de "querer consumir" e "ter a certeza de que será perfeito" que pode ser traduzido no termo em inglês hype.
O hype não tem lógica, sentido ou razão; trata-se de uma verdadeira guerra, um desejo desesperado daqueles que escolhem parar de pensar. O sonho do produto perfeito, do filme avassalador, do jogos impecável move multidões de fãs todos os anos, criando o ambiente perfeito para o autoritarismo e o conflito. Se você não entra no "trem do hype", a locomotiva te esmaga, te enquadrando como careta, excluído ou atrasado. Opinião própria não é permitida no expresso da ansiedade; tudo o que existe é a aceitação, quase um culto a um ser comercial que só existe na cabeça dos exaltados.
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Um dos casos mais notáveis do fenômeno hype pertence ao já citado Cyperpunk 2077, jogo de mundo aberto ambientado em um futuro cibernético e punk. A desenvolvedora CD Projekt Red havia conquistado a confiança da indústria com o lançamento do sucesso The Witcher 3 Wild Hunt, haurindo nessa façanha títulos de qualidade e simpatia. Seu game de robôs e cidades dominadas pelas grandes corporações foi exibido em diversos eventos de grande relevância no mercado no decorrer de longos anos. Anunciado em 2013, atraiu os jogadores através dos belos gráficos e ambientes vivos. A presença do ator Keanu Reeves (um homem de "tirar o fôlego") gerou memes e fortaleceu o hype, fazendo com que os jogadores acreditassem em um jogo absolutamente impecável e incrível, mesmo que seu lançamento ainda estivesse distante. Entre vlogs, treds, vídeos e debates, as expectativas por Cyberpunk cresceram como nunca antes visto nesse nicho de mercado. Era como a espera pela vinda do messias digital que trarei a perfeição aos gamers.
Os atrasos e adiamentos sofridos por Cyberpunk 2077 criaram uma turva de fanboys enfurecidos e impacientes, pessoas incapazes de esperar para receber a sua doce recompensa em forma de obra digital. Do lado da gigante polonesa, acionistas se desesperavam com a possibilidade de redução em suas gordas margens de lucro, forçando desenvolvedores a trabalharem quatorze, quinze, até mesmo dezesseis horas por dia para concluir o projeto. O "crunch" se ocultava por trás de uma espessa máscara de "empresa a favor do consumidor"; uma fábrica mal gerida e tão escravagista quanto as operações da revolução industrial. Os ânimos estavam a flor da pela, mas o show tinha que continuar.
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Após um quase interminável período de hype e especulação, Cyberpunk 2077 finalmente é lançado no dia 10 de Dezembro de 2020, mais de 7 anos após ter sido inicialmente anunciado. Os reviews e análises publicados pela imprensa eram inspiradores, pintando o quadro de um jogo maravilhoso e envolvente. E realmente, a versão para PC da obra é de encher os olhos; a empresa só esqueceu de avisar que as adaptações para a antiga geração estavam INJOGÁVEIS. Jogadores proprietários de Xboxone e Playstation 4 receberam um game travado, feio, truncado e digno da expressão "sem comentários". Ausência de dublagem, gráficos ultrapassados, framerate pífio, bugs aos montes, física ridícula, crashes constantes; tudo o que a CD Project disse que Cyberpurnk não traria, aconteceu.
O lançamento de Cyberpunk 2077 foi no mínimo desastroso, mas meus amigos, o hype é um monstro implacável; lembram-se dos fanboys que ficaram anos sonhando com o game? Então... essas mesmas pessoas passaram a defender os erros da desenvolvedora e atacar quem ousasse criticar seu produto. Mesmo com Sony e Microsoft devolvendo o dinheiro do quem comprou o game, uma prova cabal de que a produção resultou em algo muito problemático, um expressivo grupo de jogadores segue defendendo um dos maiores
Fraksteins do século XXI. Provas e argumentos se provaram inúteis, pois como ficou claro no decorrer desse texto, o hype é absoluto, o hype é tóxico, o hype é um monstro.
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