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CASO CYBERPUNK - UM MONSTRO CHAMADO HYPE

Foto do escritor: guilherme ossguilherme oss


Todos os dias, centenas de produtos são anunciados no mercado internacional de entretenimento. Filmes, músicas, livros e jogos buscam destaque em meio a cenários competitivos e agressivos, lançando do mão das mais variadas estratégias e técnicas para cativar o público. Consumidores em potencial são atingidos diariamente por colossais torrentes de textos, anúncios, trailers e especulações. Eis a publicidade, eis a raiz do capitalismo. Porém as vezes a exposição extrema se torna o poderoso algoz das indústrias, destruindo no lugar de construir.


Uma classe especial de produtos, que podem ser chamados de premium ou triple AAA, possui orçamento milionário e divulgação intensa. Livros como Harry Potter, filmes como Vingadores e jogos como Cyberpunk 2077 atraem a atenção de multidões, criando euforia e desespero. Durante meses ou até mesmo anos, o público compartilha teorias, vídeos, imagens e opiniões extremistas sobre os produtos, gerando expectativas irreais e insaciáveis. E é justamente esse sentimento de "querer consumir" e "ter a certeza de que será perfeito" que pode ser traduzido no termo em inglês hype.


O hype não tem lógica, sentido ou razão; trata-se de uma verdadeira guerra, um desejo desesperado daqueles que escolhem parar de pensar. O sonho do produto perfeito, do filme avassalador, do jogos impecável move multidões de fãs todos os anos, criando o ambiente perfeito para o autoritarismo e o conflito. Se você não entra no "trem do hype", a locomotiva te esmaga, te enquadrando como careta, excluído ou atrasado. Opinião própria não é permitida no expresso da ansiedade; tudo o que existe é a aceitação, quase um culto a um ser comercial que só existe na cabeça dos exaltados.


Um dos casos mais notáveis do fenômeno hype pertence ao já citado Cyperpunk 2077, jogo de mundo aberto ambientado em um futuro cibernético e punk. A desenvolvedora CD Projekt Red havia conquistado a confiança da indústria com o lançamento do sucesso The Witcher 3 Wild Hunt, haurindo nessa façanha títulos de qualidade e simpatia. Seu game de robôs e cidades dominadas pelas grandes corporações foi exibido em diversos eventos de grande relevância no mercado no decorrer de longos anos. Anunciado em 2013, atraiu os jogadores através dos belos gráficos e ambientes vivos. A presença do ator Keanu Reeves (um homem de "tirar o fôlego") gerou memes e fortaleceu o hype, fazendo com que os jogadores acreditassem em um jogo absolutamente impecável e incrível, mesmo que seu lançamento ainda estivesse distante. Entre vlogs, treds, vídeos e debates, as expectativas por Cyberpunk cresceram como nunca antes visto nesse nicho de mercado. Era como a espera pela vinda do messias digital que trarei a perfeição aos gamers.


Os atrasos e adiamentos sofridos por Cyberpunk 2077 criaram uma turva de fanboys enfurecidos e impacientes, pessoas incapazes de esperar para receber a sua doce recompensa em forma de obra digital. Do lado da gigante polonesa, acionistas se desesperavam com a possibilidade de redução em suas gordas margens de lucro, forçando desenvolvedores a trabalharem quatorze, quinze, até mesmo dezesseis horas por dia para concluir o projeto. O "crunch" se ocultava por trás de uma espessa máscara de "empresa a favor do consumidor"; uma fábrica mal gerida e tão escravagista quanto as operações da revolução industrial. Os ânimos estavam a flor da pela, mas o show tinha que continuar.



Após um quase interminável período de hype e especulação, Cyberpunk 2077 finalmente é lançado no dia 10 de Dezembro de 2020, mais de 7 anos após ter sido inicialmente anunciado. Os reviews e análises publicados pela imprensa eram inspiradores, pintando o quadro de um jogo maravilhoso e envolvente. E realmente, a versão para PC da obra é de encher os olhos; a empresa só esqueceu de avisar que as adaptações para a antiga geração estavam INJOGÁVEIS. Jogadores proprietários de Xboxone e Playstation 4 receberam um game travado, feio, truncado e digno da expressão "sem comentários". Ausência de dublagem, gráficos ultrapassados, framerate pífio, bugs aos montes, física ridícula, crashes constantes; tudo o que a CD Project disse que Cyberpurnk não traria, aconteceu.


O lançamento de Cyberpunk 2077 foi no mínimo desastroso, mas meus amigos, o hype é um monstro implacável; lembram-se dos fanboys que ficaram anos sonhando com o game? Então... essas mesmas pessoas passaram a defender os erros da desenvolvedora e atacar quem ousasse criticar seu produto. Mesmo com Sony e Microsoft devolvendo o dinheiro do quem comprou o game, uma prova cabal de que a produção resultou em algo muito problemático, um expressivo grupo de jogadores segue defendendo um dos maiores

Fraksteins do século XXI. Provas e argumentos se provaram inúteis, pois como ficou claro no decorrer desse texto, o hype é absoluto, o hype é tóxico, o hype é um monstro.



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